A Embraer, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, está acelerando sua presença no exterior com uma nova iniciativa estratégica: a criação de uma subsidiária e de um escritório próprio em Nova Délhi, capital da Índia, com previsão de funcionamento para o terceiro trimestre de 2025. A medida é um passo importante dentro da estratégia de crescimento internacional da empresa, com foco em conquistar espaço no que pode ser o próximo grande mercado de aviação do mundo.
Com apenas 50 aeronaves voando atualmente no país, o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, acredita que o potencial da Embraer na Índia é gigantesco, considerando a população de mais de 1,4 bilhão de habitantes e os investimentos do governo indiano em infraestrutura de transporte aéreo.
“Temos 4 mil aviões voando no mundo todo, mas só 50 na Índia. Isso mostra o tamanho da oportunidade”, afirmou Gomes em evento na embaixada brasileira em Nova Délhi durante a assembleia da IATA.
Conectividade e novos aeroportos criam oportunidade para jatos regionais
O governo indiano vem apostando fortemente na ampliação do setor aéreo. Um dos principais motores dessa transformação é o programa UDAN, lançado em 2016, que visa conectar cidades pequenas e médias por meio de novos voos regionais. Além disso, a previsão de construção de 50 novos aeroportos nos próximos cinco anos é um sinal claro de que o país quer alçar voos maiores no transporte aéreo doméstico.
Essa mudança abre espaço para jatos da Embraer, como o E175 e o E2, que têm performance superior aos turbo-hélices atualmente em uso por muitas companhias indianas. Segundo Raul Villaron, diretor da Embraer para a Ásia-Pacífico, os jatos podem reduzir pela metade o tempo de viagem em rotas hoje operadas com aviões mais lentos e com alcance limitado.
Além disso, o E175 — com capacidade para cerca de 80 passageiros — é ideal para voos entre cidades menores, onde a demanda ainda não justifica o uso de aeronaves maiores como os Airbus A320 ou Boeing 737.
“Esse é o cenário perfeito para o avanço da Embraer na Índia, com jatos regionais mais rápidos e eficientes substituindo os antigos modelos turbo-hélice”, explica Villaron.
Estimativa de 500 aeronaves nos próximos 20 anos
O time da Embraer acredita que o mercado de aviação indiano tem espaço para absorver cerca de 500 novas aeronaves regionais nos próximos 20 anos, das quais 300 já devem ser demandadas na próxima década. Essa estimativa se baseia não só na substituição de modelos antigos, mas no crescimento acelerado da demanda por transporte aéreo em regiões que ainda não são plenamente atendidas.
Essa ofensiva se soma à estratégia de internacionalização da empresa, como já ocorreu em mercados como o da África, do Sudeste Asiático e do Oriente Médio. Agora, com o novo escritório, a Embraer na Índia terá estrutura completa com áreas de engenharia, vendas, suporte, compras e relações institucionais — com planos de expandir de 10 para 100 funcionários em pouco tempo.
Defesa e oportunidade estratégica com o KC-390
Além da aviação comercial, o setor de defesa também representa uma grande oportunidade para a Embraer na Índia. Em 2024, a fabricante brasileira assinou um memorando de entendimentos com a Mahindra Defence Systems, abrindo caminho para parcerias em programas de renovação da frota militar indiana.
O KC-390 Millennium, avião de transporte tático desenvolvido pela Embraer, é uma das apostas para esse mercado. Segundo Bosco da Costa Jr., presidente da Embraer Defesa & Segurança, cerca de 23% da demanda mundial estimada para o modelo (500 unidades) virá da região da Ásia-Pacífico, com destaque para a Índia.
“Com o envelhecimento da frota militar local, será necessária uma estrutura logística forte, incluindo centros de manutenção, treinamento e peças sobressalentes”, afirma Costa Jr.
O KC-390 se destaca como o único modelo da categoria desenvolvido no século XXI, com tecnologia avançada frente a concorrentes como o C-130 da Lockheed Martin e o A400M europeu.
Embraer mira futuro promissor na Índia
Apesar do entusiasmo, a Embraer afirma que ainda é cedo para considerar uma linha de montagem local de aeronaves comerciais, como as que a empresa já possui no Brasil e em outras regiões. Isso dependerá da concretização de pedidos em larga escala.
“Na área de defesa, com 40 ou 60 unidades, já faz sentido. No comercial, precisaríamos de pelo menos 200 encomendas para considerar isso”, diz Gomes Neto.
A movimentação da Embraer na Índia demonstra um posicionamento estratégico diante de um mercado que pode se tornar um dos maiores do mundo no segmento de aviação regional. Com uma combinação de demanda crescente, incentivo governamental e ausência de concorrência direta nos jatos de médio porte, a empresa brasileira parece bem posicionada para voar alto na Ásia.