O setor industrial brasileiro voltou a apresentar desempenho fraco em abril de 2025. Segundo os dados divulgados nesta terça-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial avançou apenas 0,1% em comparação com março — um resultado que praticamente configura estagnação.
A variação mínima vem após uma sequência de oscilações ao longo do primeiro trimestre do ano, que já vinha demonstrando dificuldade de retomada consistente. Analistas apontam que o dado reforça o cenário de baixo dinamismo econômico, mesmo em meio a medidas do governo para impulsionar a atividade produtiva.
Panorama recente: desempenho inconsistente desde o início do ano
Desde janeiro, a indústria nacional tem mostrado dificuldades para engatar uma recuperação robusta. Embora tenha registrado um avanço de 0,5% em março, o número de abril interrompe esse pequeno fôlego. No acumulado do ano, o setor ainda opera em ritmo lento, muito aquém das projeções mais otimistas feitas no fim de 2024.
Diversos fatores têm contribuído para essa oscilação:
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Alta dos juros reais, que desestimula investimentos produtivos;
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Custo elevado de insumos, pressionando a margem das empresas;
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Demanda interna fraca, refletindo o endividamento das famílias;
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Incertezas fiscais e políticas, que dificultam o planejamento das indústrias.
Destaques por setores: alta em alimentos e queda em automóveis
Embora o índice geral tenha crescido 0,1%, o desempenho foi desigual entre os diversos segmentos industriais. Setores como o de alimentos e bebidas puxaram o crescimento, enquanto outros, como o automotivo e o metalúrgico, registraram recuos.
Tabela – Desempenho por setor em abril de 2025
Setor | Variação mensal |
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Alimentos e bebidas | +1,2% |
Produtos farmacêuticos | +0,8% |
Indústria têxtil | +0,3% |
Veículos automotores | -1,1% |
Produtos de metal | -0,9% |
Equipamentos eletrônicos | -0,6% |
Esse comportamento reforça o diagnóstico de que, apesar de alguns nichos apresentarem crescimento pontual, a atividade industrial como um todo ainda é limitada e dependente de estímulos setoriais.
Repercussão entre economistas: “sinal amarelo aceso”
A estagnação da indústria em abril ligou o sinal de alerta entre economistas. Muitos veem o número como reflexo de um ambiente ainda desfavorável à produção.
“O resultado mostra que a recuperação industrial segue frágil. A inflação está relativamente controlada, mas os juros continuam altos, o que encarece o crédito para empresas e famílias”, analisou Helena Fonseca, economista-chefe da Futura Análise Econômica.
Além disso, as expectativas de novos cortes na taxa Selic têm sido adiadas pelo Banco Central diante das incertezas fiscais e da volatilidade externa, o que mantém um custo elevado para o financiamento da produção.
O peso da indústria na economia brasileira
Mesmo com o avanço de setores como serviços e comércio nos últimos meses, a indústria ainda exerce papel fundamental no crescimento do país. O setor responde por cerca de 20% do PIB nacional e por uma parcela significativa da geração de empregos qualificados.
Quando o desempenho industrial é fraco, há um efeito em cadeia: empresas contratam menos, adiam investimentos e reduzem sua demanda por matéria-prima e transporte, impactando toda a cadeia produtiva.
Além disso, o setor é importante para a balança comercial, pois grande parte das exportações de valor agregado vem da indústria de transformação.
Perspectivas: o que esperar dos próximos meses?
A projeção para os próximos meses ainda é de cautela. Com o ambiente político instável e a atividade econômica caminhando lentamente, analistas não esperam uma retomada significativa da produção industrial no curto prazo.
Contudo, alguns fatores podem atuar como alívio parcial:
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Possível queda nos juros no segundo semestre;
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Maior dinamismo do setor de infraestrutura com novos contratos públicos;
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Crescimento moderado das exportações para América Latina e Europa.
Ainda assim, o cenário geral indica que a indústria deve seguir com crescimento abaixo do potencial, pelo menos até que haja maior previsibilidade macroeconômica e avanços nas reformas estruturais.
Fonte: Revista Oeste – “Industria brasileira avança apenas 0,1% em abril”
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