O mercado financeiro brasileiro viveu uma reviravolta nesta semana em relação às apostas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o dia 18 de junho. A possibilidade de uma nova alta da Selic ganhou força e já supera as chances de manutenção da taxa básica nos atuais 14,75% ao ano.
Segundo os contratos de opções de Copom negociados na B3, as chances de aumento da Selic em 0,25 ponto percentual chegaram a 62% na sexta-feira (6), contra apenas 33% de probabilidade de manutenção. O movimento representa uma virada expressiva em relação à semana passada, quando o mercado apostava majoritariamente na estabilidade.
Essa mudança de sentimento é atribuída, principalmente, às recentes falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que deixou claro que o comitê ainda discute a possibilidade de alta, e não de corte. O tom mais cauteloso e alinhado à necessidade de conter pressões inflacionárias reacendeu o temor de um aperto adicional na política monetária.
Galípolo adota tom duro e reacende apostas de alta
Na segunda-feira (2), Galípolo afirmou que “o Copom ainda não encerrou o ciclo de aperto monetário” e que “é cedo para falar em cortes”. A declaração foi interpretada por diversos analistas como uma sinalização de que o Banco Central ainda enxerga riscos inflacionários relevantes, o que exigiria uma resposta mais firme.

A trajetória das projeções ao longo da semana evidencia a virada: na segunda-feira, havia 65% de chance de manutenção. Na sexta-feira, esse percentual desabou para 33%.
“O tom que o Galípolo vem adotando é de cautela. Por isso, ganhou força a expectativa de uma alta de 25 pontos-base”, analisa Rafael Sueish, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
O mesmo cenário foi apontado por Lais Costa, analista da Empiricus Research:
“O sentimento de quem toma risco mudou. Os economistas de mesa claramente mudaram de posição sobre o Copom.”
Juros futuros e Tesouro Direto reagem com força
O impacto no mercado foi imediato. Os títulos prefixados do Tesouro Direto voltaram a oferecer taxas superiores a 14% ao ano, enquanto os papéis atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) passaram a pagar mais de 7% de juro real em todos os vencimentos, algo que não era observado há vários meses.
Esse movimento de alta nos prêmios reflete o temor de que a política monetária se torne ainda mais restritiva e permaneça assim por mais tempo. Na avaliação de alguns analistas, o Banco Central já fez o necessário, e o momento seria de observar os efeitos das medidas.
“Não esperamos aumento. Acreditamos que o BC já entregou o necessário e deve manter a Selic estável por um tempo prolongado”, avalia Guilherme Silva, economista da Ativa Investimentos.
Pressões externas também pesam: EUA aquecidos
Além do fator doméstico, dados recentes da economia dos Estados Unidos também colaboraram para o aumento das expectativas de alta dos juros no Brasil. O relatório de emprego (payroll) divulgado nesta sexta-feira mostrou criação de 139 mil vagas em maio, acima das projeções. Salários também surpreenderam positivamente, assim como a manutenção da taxa de desemprego.
Como consequência, os rendimentos dos Treasuries voltaram a subir: os papéis de dois anos alcançaram 4,037%, enquanto os de dez anos chegaram a 4,494%. Esse cenário pressiona emergentes como o Brasil a manter juros altos para evitar fuga de capital e valorização excessiva do dólar.
Não por acaso, o dólar voltou a superar os R$ 5,60, depois de ter recuado brevemente para o menor nível em quase oito meses.
Aposta em Selic a 15% se consolida
Com o atual cenário, a taxa Selic em 15% ao ano já é considerada uma possibilidade concreta por parte dos agentes de mercado. Esse patamar seria o mais alto desde o início do ciclo de aperto monetário iniciado em 2021.
O próximo Copom, marcado para 18 de junho, será decisivo para definir os rumos da política monetária no segundo semestre. O que está claro é que o Banco Central está longe de considerar encerrado o combate à inflação – e o mercado já ajustou suas apostas.
O cenário também reacende o debate sobre os efeitos da taxa de juros na atividade econômica. Setores como o varejo, a construção civil e a indústria já alertam para o impacto de um juro tão elevado sobre o consumo e os investimentos.
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